sábado, 7 de dezembro de 2013

             CAPOEIRA NA ESCOLA - INTERDISCIPLINARIDADE


Aqui o Grupo Capoeira Vadeia estará mostrando como a inserção de uma modalidade como a Capoeira no meio escolar pressupõe um enquadramento da mesma com os processos e objectivos de ensino estipulados para os vários anos de escolaridade. A proximidade da Capoeira ao meio escolar é facilmente conseguida quando a dividimos segundo o ponto de vista pluridisciplinar, isto é, ao expormos a Capoeira nas suas várias perspectivas, conseguimos observar paralelismos com algumas das disciplinas existentes nos currículos escolares.

PERSPECTIVAS
DISCIPLINAS
Histórico-cultural
História
Artística
 Ed. Física, Expressão Dramática
Musical
Ed. Musical, Ed. Física, Português
Actividade Física
Ed. Física


Para além, da óbvia relação da modalidade com a Educação Física através do seu carácter físico aliado ao movimento (resistência, velocidade, força, agilidade, flexibilidade) e semelhanças com as modalidades de academia, tais como a dança (aeróbica, body combat, etc...), desportos de combate e ginástica, a Capoeira abrange outras disciplinas como:
*      História - através da perspectiva histórica da origem e evolução da modalidade que está relacionada com a época dos descobrimentos e colonização;
*      Educação Visual e Tecnológica - através da construção e decoração dos instrumentos;

*   Educação Musical - através da manipulação de instrumentos musicais e noções de ritmos e compassos;

*  Português - através da perspectiva musical onde a construção lírica das letras das músicas leva ao contacto com a poesia;
*      Expressão Dramática - através da expressão corporal e dramática expressamente inerente a alguns dos estilos de Capoeira (Puxada de Rede, Angola, Maculelê).

Este carácter pluridisciplinar da Capoeira dá-nos a noção do envolvimento possível das várias disciplinas em torno de uma actividade motivante, nova e abrangente, o que poderá, após devidamente programada, trazer uma diferente dinâmica ao meio escolar e seus envolventes. Porque não aproveitar a fértil imaginação dos alunos e leva-los à vivência de experiências abordadas por eles na História? Levar os alunos a conhecer a influência dos descobrimentos na cultura luso-africana sediada no Brasil. O porquê da identificação dos ritmos e percussões energéticos com um país criado e desenvolvido durante muitos anos por nós portugueses?
Este tipo de perguntas poderiam ser facilmente pesquisadas nas aulas de História e transportadas para as aulas de Educação Musical com a possibilidade de serem experimentados os vários ritmos dos instrumentos de percussão, instrumentos estes que poderiam ser facilmente construídos e decorados nas aulas de Educação Visual e Tecnológica. Também nas aulas de Português, a análise da construção das letras e a interpretação das mesmas, sendo que o seu carácter lírico e poético advém da literatura portuguesa da época.
Toda estas simples actividades transportadas para as aulas de Educação Física na modalidade de Capoeira, só proporcionarão, por certo, diversidade de experiências, motivação extra para todos os envolvidos no processo de ensino no meio escolar.

Qualquer uma destas vertentes poderia ser inserida no meio escolar, mas devido ao facto da Capoeira ser uma modalidade com a qual a maioria dos alunos não tem contacto directo, o mais acessível seria enveredar pela vertente jogo, devido ao carácter lúdico e ao facto de se encontrar no patamar básico das progressões pedagógicas para a aprendizagem dos gestos técnicos da modalidade, deixando as vertentes dança e desporto de combate para iniciação a níveis superiores de compreensão e execução da Capoeira.

A noção dos vários estilos de Capoeira também se torna necessária na introdução à modalidade, pois os estilos definem os ritmos, os gestos técnicos e os envolvimentos históricos necessários e específicos. Nesta ordem de ideias podemos dividir a Capoeira em três “estilos”, sendo Angola e Regional os ancestrais que remetem a configurações históricas e o terceiro estilo, um misto das duas, uma Capoeira Contemporânea adaptada à evolução das sociedades actuais. Também é de referir outras sub-modalidades, já abordadas no capítulo 2, adjacentes ao fenómeno Capoeira, tal como, a Puxada de Rede, o Maculelê e o Samba de Roda.

Angola – de carácter ancestral, tradicional e religioso, é identificada por um ritmo lento, onde a recreação, a malícia (mandinga), a expressão dramática e corporal remetem às tradições de cultura negra da época da escravatura.

Regional – descaracterizada da ancestral, com movimentos e sequências estandardizadas, adaptada à realidade dos desportos de academia, é identificada por um ritmo rápido e entusiasmante, com movimentos mais agressivos e aero-acrobáticos como um desporto de combate.

Contemporânea – abrangente das tradições e adaptada às tendências sociais actuais, englobando ritmos e gestos técnicos da Capoeira Angola e Regional, em constante desenvolvimento e adaptação, procurando atingir todo o tipo de mercados e contextos.


Berimbau

É o principal instrumento da modalidade, apesar de não ser aconselhada a sua aprendizagem como primeiro instrumento por ser de difícil manuseamento e toque, comparado com os restantes instrumentos. É construído com um pau de beriba. Um arame de aço n.º 5 que une as duas extremidades do pau e ao qual se adiciona uma cabaça que irá funcionar como caixa de ressonância através de um fio (barbante) colocado de forma a abraçar o arame e o pau do berimbau. Depois deve ser tocado com uma vareta (efectua os batimentos) e um dobrão (moeda ou pequena pedra) que realiza os diferentes tipos de som que se podem extrair. Existem três tipos de berimbaus mediante o tamanho da cabaça; Gunga, Médio e Viola. O toque do berimbau agrupa os capoeiristas em círculo. O pé do berimbau é a entrada ritual para a roda de Capoeira. Situado à frente dos instrumentos, onde o berimbau ocupa a posição central, é o espaço liminar onde os capoeiristas se agacham acocorados e se cumprimentam, apertando as mãos, para dar início ao jogo. Para finalizar resta dizer que adjacente ao berimbau se encontra o caxixi (cesto com sementes) que faz parte do berimbau embora a aprendizagem do mesmo possa ser efectuada de forma separada. O berimbau faz a marcação do toque e rege a roda de Capoeira.







Pandeiro




Instrumento de origem Hindu. O pandeiro aparece como segundo instrumento em ordem de importância, sendo um instrumento de fácil aprendizagem já que envolve ritmos simples (com excepção do Samba) não exigindo grande domínio de motricidade fina. É semelhante à pandeireta mas um pouco maior, tendo sido introduzido na Capoeira por via portuguesa, embora originalmente não seja um instrumento português. Acompanha o som do caxixi do berimbau.

                                              Atabaque


Também chamado timbau este é o instrumento proposto para o ensino dos ritmos de Capoeira, já que os movimentos exigidos são de motricidade grossa e envolvem ritmos de simples aprendizagem. Pode ser facilmente substituído por pequenos djambés tão em moda na juventude actual ou outros instrumentos de percussão com vista à aprendizagem rítmica, já que o instrumento original (atabaque) é de grande dimensão e elevado custo. A utilização do atabaque encontra a resistência dos mestres mais antigos, porque este instrumento produz um som alto, que impede ao capoeirista de distinguir o toque que está a ser executado pelo berimbau. Acompanha o berimbau na marcação do ritmo.




 Agogô

Este instrumento é perfeitamente dispensável, servindo apenas como complemento sonoro da roda. Consiste num conjunto de dois sinos metálicos de tamanho diferente ligados por um elo de ferro em que se utiliza uma baqueta para extrair os sons com batimentos. É também um instrumento de fácil aprendizagem e que pode servir como progressão rítmica. Contudo, é de mais difícil obtenção apesar do seu baixo custo. Tem a função de ser contraponto rítmico ao berimbau e ao                                                      atabaque.